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Li há tempos a expressão “Parar é morrer” e acho que pela primeira vez parei uns instantes (e aparentemente continuei viva 🤭) para pensar nas implicações que esta frase feita nos traz.

Vivemos numa sociedade que nos pressiona para não pararmos. Que nos pressiona para aproveitar cada momento, cada segundo.

A pressão do tudo para ontem, as 1001 expetativas (nossas e dos outros) do que devemos fazer e ser, a avalanche de informação disponível para podermos “aproveitar” todos os instantes.

Talvez o crescente número de pessoas a reportarem stress e doenças mentais seja um resultado desta realidade.

Cada vez mais noto que parar não é morrer. Parar não é sinal de preguiça nem de falta de ambição.

Pelo contrário.

Parar é essencial para desligarmos o piloto automático, sairmos da rodinha do rato e escolhermos a nossa resposta às situações.

“Entre o estímulo e a resposta há um espaço. Neste espaço está o poder de escolhermos a nossa resposta. Na nossa resposta está nosso crescimento e a nossa liberdade.” Viktor Frankl

Parar aumenta a energia e a criatividade.

Parar é sinal de amor próprio, pelos outros e pela vida. A nossa.

Desaprendemos a parar e a esperar

É curioso que a sociedade tem criado as condições para desaprendemos a parar.

Desaprendemos, por exemplo, a sermos capazes de esperar. Sentimo-nos compelidos a aproveitar todos os tempos com algo “útil”.

E chamamos aos tempos de espera “tempos mortos”.

Estaremos vivos nos tempos mortos? Tive alguma dificuldade em encontrar uma imagem de pessoas à espera que não estivessem com o telemóvel na mão para ilustrar este tema.

Ou será que já não somos capazes de fazer companhia a nós próprios? É curioso que pessoas isoladas de qualquer tipo de passatempo (outra expressão que me põe a pensar) escolhem experimentar uma máquina de choques ao fim de 15 minutos para quebrar o tédio.

Fomentamos a rapidez.

Fast food. Fast information. (Too long, didn’t read.). Fast life.

Cada coisa que fazemos é algo a despachar para passarmos à próxima.

Quando tratamos cada coisa a fazer como algo a despachar, como um obstáculo para a coisa seguinte, estamos a tratar a Vida como algo a despachar, como um obstáculo para a Vida (?) seguinte.

Encaramos cada uma destas coisas a despachar, cada espera, como uma parte da vida que não conta. Achamos que não conta. Que o dia de hoje não conta, mas como vivemos o dia de hoje é como vivemos a nossa vida.

Treinar Parar

Tenho andado a treinar isto do parar e deixo algumas sugestões.

A mais óbvia é mesmo o parar, descansar, dormir, desligar. A opção “não-incomodar” no meu telemóvel é muito utilizada. É tão importante aprendermos que temos o direito de não estarmos sempre disponíveis, que as chamadas, mensagens e emails não têm de ser respondidos na hora.

É tão importante aprendermos a notar o processo de dependência de vermos o que há de novo nas redes (que estão desenhadas para serem viciantes e para saber mais sobre isso aconselho o documentário da Netflix – O dilema das redes sociais).

E se achamos que tudo isto é impossível, será sempre impossível.

Outra ideia é criar momentos para refletir sobre a vida. A nossa. No artigo “Journaling: uma espécie de diário com poderes” falo sobre os benefícios de escrevermos e como o fazer.

E dedicar a nossa atenção totalmente ao que estamos a fazer sem outro entretém ligado (como a TV, um vídeo, ou um podcast)? Isto pode ser treinado, por exemplo, a realizar tarefas domésticas. Tenho treinado isto a cozinhar e isso traz-me tranquilidade e deixa-me bem-disposta. Podemos reduzir aqui um pouco a rapidez, mas não é essencial. A ideia aqui é quando estamos a fazer uma coisa, estamos só a fazer essa coisa. Quando corto a cenoura, corto a cenoura. Quando mexo o tacho, mexo o tacho.

Nem sempre é fácil treinar a paciência de esperar e aproveitar todos os “tempos mortos” como uma oportunidade maravilhosa para não fazer nada. Ou melhor: fazer Viver. Respirando. Observando o que está à nossa volta. Vendo coisas em que nunca reparámos. E deixarmo-nos surpreender pela beleza e humor do mundo. E às vezes dou por mim a inclinar-me para o telemóvel. Sorrio e treino a gentileza de voltar ao fazer Viver. Estando.

Ler livros pelo prazer de ler, sem propósito de aprender algo. Atualmente há tantos livros interessantes focados em aprendizagens que podemos ceder à pressão (de quem?) de aproveitar todos os momentos para ler este tipo de livros. Esta é uma das áreas onde posso treinar mais: ler livros “a sério”, de autores que nos maravilham com as suas ideias, histórias e uso das palavras.

E ter a intenção de Parar no meio de todo este movimento. Sem dúvida aquilo que trouxe maior impacto ao meu desempenho, ao meu bem-estar, à minha VIDA. Criei uma mini-série chamada Parar Em Movimento para inspirar a integrar 4 técnicas para ajudar quem quer fazer este caminho. 

 

 

RECURSOS ÚTEIS SOBRE ESTE TEMA

Micro Séries de Treino e PDFs sobre Mindfulness

Cursos abertos

Artigos do Blog

COM QUEM?
ana relvas mindfulness meditacao

Ana Relvas, Ph.D. em Engenharia Aeroespacial, Consultora de Desempenho

Em 2002 comecei a descobrir a transformação que práticas como o mindfulness podiam trazer ao meu desempenho e bem-estar. Foi um percurso de altos e baixos, de aprendizagens, e desmontar pre-conceitos.

Durante anos dediquei-me em aprender e praticar com vários professores até decidir fortalecer a minha capacidade de ensinar realizando o Programa de Certificação como Professora de Meditação Mindfulness com o Jack Kornfield e a Tara Brach.

Hoje acompanho outros a fazerem este caminho, talvez com menos obstáculos dos que eu encontrei (e criei).

 

 

 

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