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Recordo hoje os resultados do questionário que  lancei para recolher informação sobre os comportamentos dos líderes em Portugal. Queria verificar se a realidade de outros países, em que os líderes têm dificuldade em adotar uma série de comportamentos, também se verificava cá.

Resposta curta: sim, em Portugal verifica-se a mesma realidade de outros países.

Parti de métricas internacionais que indicavam que os 5 comportamentos que os líderes têm mais dificuldade em adotar para se conectarem com as equipas e alavancarem o seu potencial são, por ordem de dificuldade:

  • falham em dar feedback (reconhecimento e redirecionar para um melhor desempenho);
  • falham em ouvir e envolver;
  • falham em usar o estilo de liderança certo (demasiada ou pouca supervisão);
  • falham em definir objetivos claros;
  • falham no desenvolvimento de outros.

Os respondentes ao questionário responderam à questão “como que frequência, quando liderado, os seus líderes adotam cada um destes comportamentos?”.

As respostas reforçam que em Portugal também existem estas dificuldades embora com um peso diferente.

O comportamento “desenvolver os outros” é o comportamento que as respostas revelaram ser menos frequente em Portugal ao contrário das respostas internacionais que indicavam que, dos 5 comportamentos indicados, era o que os líderes tinham menos dificuldade em adotar.

Destaca-se que o comportamento “ouvir e envolver” é, destes cinco comportamentos, aqueles que os líderes adotam com mais frequência em Portugal, sendo o segundo que internacionalmente revelava ser mais difícil.

No entanto, de notar, que as respostas revelam que todos estes comportamentos são adotados com pouca frequência.

No gráfico seguinte apresento as respostas referentes ao comportamento dos líderes distinguindo aqueles que assumem funções de liderança (vermelho) e que não assumem funções de liderança (azul).

comportamento-liderados-portugal

É curioso observar que quem assume funções de liderança reconhece que o SEU líder adota com mais frequência estes comportamentos do que quem não assume funções de liderança. Podemos associar várias interpretações a esta diferença mas não tendo mais informação não passam de especulações. Poderá acontecer que, por já assumirem funções de liderança, os seus líderes têm mais experiência como líderes ou a relação ser mais madura. Pode também significar que os próprios respondentes, pela sua experiência como líderes e posição, têm mais autonomia e expetativas diferentes relativamente ao comportamento de quem os lidera.

Por outro lado, a diferença mais significativa nos resultados deste questionário está na perceção da frequência destes comportamentos por quem é liderado e pela perceção da frequência de adoção destes comportamentos por quem é líder.

O gráfico seguinte representa:

  • [azul] as respostas de todos os respondentes à questão “com que frequência quando é liderado os seus líderes adotam os seguintes comportamentos?”;
  • [vermelho] as respostas de quem assume funções de liderança à questão “com que frequência adota os seguintes comportamentos?”, ou seja, a sua perceção referente ao seu comportamento como líder.

comportamentos-liderança-portugal

Neste caso a diferença é significativa, ou seja, os líderes têm uma perceção de adotar estes comportamentos que não está alinhada com a perceção dos liderados.

Como estes dados não se referem a uma só organização, existem várias razões pelas quais esta diferença se manifesta. Se as respostas se referissem a grupos de uma organização poderíamos tirar mais conclusões.

Há no entanto duas questões que me surgiram:

  1. Há a possibilidade de os líderes terem a perceção de estarem a adotar estes comportamentos mas, por um conjunto de razões, não serem valorizados pelas pessoas que lideram, as expetativas não estarem alinhadas ou estarem a fazê-lo de um modo pouco efetivo? Por exemplo, o líder pode ter a perceção de que dá feedback com frequência que na prática é “sempre que necessário” mas fá-lo ocasionalmente para chamar a atenção de que algo está errado. Quem é liderado por exemplo, pode ter expectativa de receber também feedback positivo, ou que lhe chamem a atenção de que algo pode ser melhorado quando o problema está a acontecer, de um modo construtivo, e não semanas depois quando o erro já foi cometido várias vezes.
  2. Se os próprios líderes também reconhecem ter dificuldade em assumir estes comportamentos e que têm espaço de melhoria, o que os impede de melhorar?

Resumindo, pode estar a acontecer que os líderes acreditam que estão a adotar estes comportamentos mas na realidade ou não estão ou não o estão a fazer de modo a serem percecionados/valorizados como tal.

O que tenho observado na minha experiência é que muitas vezes os líderes não fazem melhor porque:

  • não sentem necessidade para o fazer já que não têm noção do impacto do seu comportamento no desempenho das suas equipas. Alguns acreditam que é da responsabilidade da equipa obter resultados e o trabalho aparecer feito e esquecem-se que podem influenciar a qualidade dos resultados, a proatividade das suas equipas e no limite a sua capacidade para se desligarem dos assuntos e focarem-se em coisas mais importantes do que andar “em cima”.
  • não querem perder o controlo ou capacitar a sua equipa porque temem deixar de ser necessários ou ultrapassados.
  • não sabem fazer melhor por exemplo porque os exemplos de líderes que tiveram foi de má liderança e nunca tiveram modelos de boa liderança com quem pudessem aprender. Vivem num mundo que o líder se restringe a um estilo de liderança e não conseguem, porque não sabem como, flexibilizar o seu comportamento e comunicação para obter o melhor das suas equipas.

Os líderes podem desenvolver a competência e o empenho das suas equipas, adotando o nível de liderança certo, personalizado à pessoa e à tarefa naquele momento.

A liderança não é uma competência inata. Há características pessoais que podem ajudar, mas havendo vontade, todos podem adquirir estratégias que os ajudam a criar equipas empenhadas e competentes e que os libertem de problemas e falta de tempo. E talvez essa seja a maior motivação individual: libertarem-se dos problemas e da falta de tempo.

E pode respirar fundo porque não ser capaz ainda de usar algumas dessas estratégias de um modo natural acontece a muita gente que se tem focado a desenvolver outro tipo de competências. O primeiro passo é querer mudar isso. 

Agradeço a todos o tempo que dispensaram a responder ao questionário e a ler este artigo. Fico contente por haver interesse e curiosidade sobre como podemos criar melhores líderes em Portugal e contribuir para melhores resultados das empresas e satisfação de quem trabalha.

Quem estiver motivado para aprender estratégias comprovadas de liderança pode espreitar o programa Gestão Eficaz de equipas.

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AO COMANDO DA OBJETIVO LUA

Ana Relvas, Ph.D & Consultora de Desempenho

Ana Relvas é a propulsora da Objetivo Lua, projeto que cresceu da sua vontade em ajudar outros a concretizarem o seu potencial e foi construído sobre uma carreira de mais de 10 anos como Gestora e Engenheira Aeroespacial.

É esta experiência que, aliada à formação como Coach e Master Practitioner em Programação Neurolinguística, permite entender os desafios profissionais atuais e desenhar programa para cada pessoa, equipa ou empresa.

 

 

 

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