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Às vezes fazemos coisas que são contrárias aos nossos interesses e felicidade. Hoje aprofundo uma ideia que já partilhei noutro artigo e que nos pode ajudar a realizarmos sustentadamente o que nos traz valor e faz feliz.

O guião pessoal: ajuda-nos ou sabota-nos?

Todos gostamos de histórias. Histórias entretêm-nos, ensinam-nos, inspiram-nos.

Hoje quero falar de uma história que todos trazemos connosco. Uma história que criámos ao longo da nossa vida. É a história de quem somos, do TIPO de pessoa que somos, a história que nos define. Gosto de lhe chamar guião já que muitas vezes nos guia na escolha das respostas e comportamentos que adotamos.

Ter consciência deste guião, nos outros e em nós, aumenta a nossa capacidade de influenciarmos os outros e a nós mesmos.

Alguns de nós nem tiveram consciência da criação deste guião. Muitas vezes este guião nasceu de comportamentos repetidos, do que achamos que os outros acham de nós, do que somos e gostamos ou do que somos e não gostamos.

Alguns destes guiões ajudam-nos. Alguns destes guiões sabotam-nos.

Algumas pessoas correm o guião do “eu sou muito exigente”, “eu sou muito focado”, “eu sou do tipo de pessoa que ajuda os outros”, “eu sou uma pessoa com uma vida muito complicada”, “eu sou do tipo de pessoa sem jeito para…”, “eu sou do tipo de pessoa que não se importa com o que dizem de mim”, “eu tenho pouca energia”, “eu sou uma pessoa séria”, “eu sou uma pessoa divertida”, “eu sou um bom pai”, “eu sou um bom amigo”, “eu sou feliz”.

E às vezes nem temos consciência destes guiões.

O guião e a motivação

O impacto do guião nos resultados e no modo como as pessoas respondem por exemplo a um pedido tem sido observado.

Dois professores da Duke University e da University of St. Thomas fizeram uma experiência simples para explorar esta ideia.

Criaram um programa de computador com um círculo do lado esquerdo do ecrã e um quadrado no lado direito. Pediram então aos participantes para, usando o rato, arrastarem o círculo para dentro do quadrado. Quando o faziam, um novo círculo aparecia no lado esquerdo e o objetivo era arrastar o máximo de círculos no tempo de 5 minutos.

Alguns participantes receberam $5, outros 50 cêntimos e outros pediram que o fizessem como um favor.

O grupo que recebeu $5, em média, arrastou 159 círculos.

Os que receberam 50 cêntimos arrastaram 101 círculos.

Os que não receberam nada mas pediram-lhes para o fazerem como um favor arrastaram 168 círculos.

Noutra situação, uma associação de reformados na América pediu a alguns advogados se podiam reduzir os seus honorários para $30 para ajudar alguns dos seus membros. A resposta dos advogados foi não. Então, os membros da associação tentaram uma nova abordagem: perguntaram se o poderiam fazer de graça e surpreendentemente a resposta foi sim.

Quando consideramos fazer algo perguntamos subconscientemente a questão “eu sou o tipo de pessoa que…?”. Avaliamos o nosso guião. Quando perguntaram aos advogados se podiam reduzir os seus honorários para $30, eles responderam à questão “eu sou o tipo de pessoa que trabalha por $30 por hora?” e a resposta foi claramente não. Mas quando lhes pediram para o fazer como um favor a questão foi “sou o tipo de pessoa que ajuda pessoas em necessidade?” e a resposta foi sim.

Obviamente a solução para criar empenho e motivação não é deixar de pagar ou pedir favores para o trabalho ser realizado (e provavelmente é este um dos problemas em várias empresas “faz lá isto, são só 5 minutos, podes dar um jeitinho?”).

A solução passa por criar um guião inspirador com o qual as equipas possam alinhar os seus guiões individuais. Alguns chamam-lhes missão e valores.

O guião individual está muito relacionado com os valores de cada um, com as coisas, princípios que são mais importantes para si.

O princípio da consistência limita-nos ou faz-nos crescer

Um dos princípios da influência identificados por Robert Cialdini é o da consistência e este princípio é por vezes explorado por quem quer influenciar outras pessoas.

A consistência, ou seja termos os mesmos comportamentos do passado ou de acordo com aquilo que pensamos/pensam que somos, é uma característica altamente valorizada na sociedade. Quando alguém se contradiz, muda de opinião, volta com a palavra atrás, ou muda algum comportamento que até essa altura sempre teve, muita gente acha que essa pessoa tem duas caras, não sabe o que quer ou até tem algum problema mental. A consistência está associada com qualidades pessoais e intelectuais e intimamente ligada à estabilidade e honestidade de um indivíduo. Vários estudos têm observado que para manter a imagem de consistência muitas vezes temos atitudes que não são do nosso melhor interesse, principalmente porque não paramos para pensar nisso.

A necessidade de sermos consistentes pode-nos levar a comprar uma coisa que não queremos/precisamos e também a impedirmo-nos de sermos felizes ou termos um comportamento que desejamos.

Quando alguém tem a autoimagem de si mesmo, um guião, de uma pessoa feliz, consegue dar novos significados às situações mais adversas para manter essa imagem.

Quando alguém tem a autoimagem de si mesmo como uma pessoa com uma vida muito complicada, consegue sentir-se impotente perante muitas das situações na sua vida. Provavelmente conhece alguém que por mais que os amigos lhe digam “isso não é assim tão importante”, “vai-se resolver”, “tens isto e isto bom na tua vida”, continuam a dizer “tu não percebes, a minha vida é muito complicada!”? Ter uma vida complicada faz parte de quem é.

Quando alguém tem a autoimagem de si mesmo como uma pessoa que pratica exercício e é saudável, consegue criar as oportunidades para ter isso na sua vida. Quando alguém tem a autoimagem de si mesmo como uma pessoa que não tem jeito e não gosta de fazer exercício, tem alguma dificuldade em iniciar a prática de exercício porque “não é quem ela é”.

Quando alguém tem a autoimagem de si mesmo como alguém assertivo e até agressivo, tem alguma dificuldade em alterar esse comportamento. Algumas pessoas até dizem “está com pezinhos de lã…o que é que este quer?”.

Quando alguém tem a autoimagem de que está sempre contactável e disponível, tem alguma dificuldade em ter tempo para si sem se sentir culpado.

Quando alguém tem a autoimagem de si mesmo como uma pessoa que trabalha muito, muito sobrecarregada e que trabalha até tarde, não consegue encontrar equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Por outro lado, quando alguém tem uma autoimagem de ser uma pessoa organizada que consegue sair a horas para fazer outras coisas de que gosta, faz o que tem que fazer durante o dia para que isso aconteça pois isso é consistente com a imagem que tem de si mesmo.

Qual é o seu guião?

Às vezes os guiões que criámos (ou os outros criaram) sobre quem somos limitam-nos, sabotam os nossos resultados. Às vezes definirmo-nos como quem queremos ser ajuda-nos a mais facilmente agirmos consistentemente com isso. Experimente criar um guião que lhe traga os recursos que precisa (por exemplo, “eu sou uma pessoa que perante situações difíceis reage com calma, serenidade e foco na solução”, “eu sou uma pessoa feliz”, “eu sou uma pessoa com tempo”, etc.)

Pense um pouco nisso. Qual é o seu guião? Escreva as suas reflexões e se o seu guião o limitar, reescreva-o pois até o espetáculo terminar, o palco da sua vida será sempre seu.

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Ana Relvas, Ph.D & Consultora de Desempenho

Ana Relvas é a propulsora da Objetivo Lua, projeto que cresceu da sua vontade em ajudar outros a concretizarem o seu potencial e foi construído sobre uma carreira de mais de 10 anos como Gestora e Engenheira Aeroespacial.

É esta experiência que, aliada à formação como Coach e Master Practitioner em Programação Neurolinguística, permite entender os desafios profissionais atuais e desenhar programa para cada pessoa, equipa ou empresa.

 

 

 

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