Em particular em tempos de crise, alguns gestores estão preocupados sobre como podem ajudar as suas equipas a continuarem motivadas e a terem resultados. Para algumas pessoas a incerteza da situação económica atual, o risco de perder o emprego e de não conseguir prever o seu futuro financeiro reduziu a sua motivação e a sua capacidade de ser capaz de influenciar os resultados (quantas vezes já ouviu dizer que a “culpa é da crise”?). Em alguns casos também reduziu o grau de cooperação entre os membros das equipas já que o colega passou a ser aquele que pode ficar com o seu trabalho.

Curiosamente esta situação tem um efeito perverso: devido ao medo de perder o emprego, muita gente está a dar o tudo por tudo, a sujeitar-se a condições que noutra situação não aceitaria à custa da sua saúde, entusiasmo e vida pessoal. Há até quem diga quem em tempos de crise a produtividade aumenta. No entanto, este aumento de produtividade é muitas vezes conseguido à custa de esforço extra e erros o que não é sustentável. O resultado, além de possível burnout, é o aumento de insatisfação e o aumento da predisposição para mudar de trabalho assim que tiverem oportunidade…e isso custa dinheiro!

Embora os líderes não possam ter todas as certezas e garanti-las às suas equipas, está nas suas mãos, mesmo em tempo de crise, promover estratégias que minimizem a incerteza e promovam a cooperação. Isto é essencial para ultrapassarem as dificuldades.

Quando as pessoas têm a sensação que têm pouca capacidade de controlarem os eventos que os afetam (locus de controlo) são mais vulneráveis à pressão e a eventos stressantes. Mesmo podendo ser difícil ter certezas sobre a evolução do negócio, como líder faça tudo ao seu alcance para promover um ambiente de trabalho em que aumenta a sensação de certeza noutras dimensões.

Deixo aqui algumas sugestões de estratégias que o podem inspirar.

Facilitar a vida dos colaboradores e apoiá-los promovendo o seu bem-estar físico, social e psicológico: há empresas que disponibilizam serviços e protocolos que facilitam a vida pessoal dos seus colaboradores. Além disso, cada vez mais, as melhores empresas para trabalhar permitem que os trabalhadores possam por exemplo trabalhar alguns dias a partir de casa ou se possam ausentar para resolver alguma questão pessoal. É através de uma cultura de responsabilização e confiança que criará as condições para que os resultados apareçam sem o peso do acompanhamento constante.

Promover a sensação de controlo: permitir que cada um tenha algo a dizer nas decisões que têm impacto no seu trabalho e ambiente de trabalho, encorajando e implementando mecanismos de comunicação aumenta a sensação de controlo individual. Por exemplo, sempre que possível, é importante dar a cada um a liberdade para organizar o seu tempo, ter uma palavra a dizer nos prazos a que é sujeito, no seu horário de trabalho, nas tarefas que desempenha, etc. Melhorar a organização do trabalho, as interdependências entre as pessoas e definir objetivos claros contribui para que cada um sinta que está integrado num ambiente de trabalho organizado, bem gerido, aumentando a sensação de controlo do seu dia-a-dia. Dar feedback positivo e construtivo com frequência promove uma cultura de crescimento e justiça em vez de medo e ressentimento. Assim, os colaboradores sentir-se-ão mais respeitados e valorizados.

Promover um ambiente de trabalho em que sugestões, questões e criticismo que podem levar a melhorias sejam bem-vindos: estar aberto a que os colaboradores deem sugestões sobre como melhorar o ambiente de trabalho, os processos e os resultados leva a que estes se sintam mais envolvidos por exemplo na implementação de novas estratégias. Os líderes podem também estar atentos e fazerem o que está ao seu alcance para que cada um tenha a oportunidade de fazer o que sabe fazer bem e gosta já que isso contribui para aumentar a satisfação pessoal, motivação, entusiasmo e empenho das pessoas. Dá trabalho? Sim mas contribuirá para ter melhores resultados.

Comunicar claramente os objetivos, valores e cultura da empresa: partilhar claramente quais são os objetivos, ser transparente na comunicação dos reais desafios que a empresa enfrenta e envolver os colaboradores na procura de soluções contribui para a motivação e empenho de todos. O passo seguinte é levar cada colaborador a criar também a sua visão e qual o seu papel na realização da visão da empresa.

Promover o espírito de equipa e o desenvolvimento pessoal: mostrar genuinamente que se interessa pelo crescimento e desenvolvimento pessoal de cada um. Promover, pelo exemplo, um bom ambiente de trabalho, em que a colaboração é valorizada e as relações sociais bem-vindas é a base para ter uma equipa unida.

Desmontar o “a culpa é…”: Hoje em dia, o “a culpa é da crise”, “a culpa é da troika” tem dado a muita gente a narrativa para se desresponsabilizarem dos seus resultados e para se sentirem desmotivados. A situação é o que é e não depende de nós por isso não vale a pena ficar a reclamar, a falar sobre isso e a sentirmo-nos vítimas. O que depende de cada um é como lida com isso, como encontra novas estratégias e se adapta à situação. Promover uma cultura de criatividade e entusiasmo para enfrentar estes e outros desafios é essencial. Se outros conseguem, é porque é possível.

Deixo a sugestão para que escolha uma ou duas destas ideias, promova a discussão e experimente fazer nos próximos dias alguma coisa numa destas áreas e observe os resultados!